terça-feira, 3 de novembro de 2009

Benguela

Ao entrar em Benguela, vindo do aeroporto da Catumbela, consegue-se observar um pequeno aglomerado de casas feitas com tijolo de areia misturada com argila, feitas sem o apoio de pilares que ajudem a sua sustentação, com telhados de zinco cuja capacidade de fixação se resume á quantidade de pedras colocadas sobre os mesmos, no entanto, apesar de frágeis servem de abrigo e de habitação de pessoas que pela devastação e medo da guerra civil em que estiveram envolvidos, principalmente na década de 90, se viram obrigados a refugiar-se nas cidades e neste caso nos seus subúrbios, onde apesar de perigoso, era mais fácil “sobreviver”. A separar a estrada deste bairro, encontra-se uma linha de caminho de ferro que em tempos serviu como principal ligação entre províncias e que permitiu ao longo de muitos anos as trocas comerciais e abastecimento da cidade. Esta linha, passa directamente por dentro de uma das zonas industriais existentes, tendo ligação interna com fábricas e armazéns, resumindo, uma rede ferroviária muito bem estruturada. A mesma está actualmente em recuperação por parte de empresas chinesas e já se avistam alguns comboios em circulação para efeitos de testes. Frente a esse bairro, encontra-se essa zona industrial relativamente recuperada em funcionamento, com antigas empresas, algumas com décadas de existência, ainda da fase colonial, e outras mais recentes e que foram colmatando as necessidades da população, nomeadamente ao nível de materiais de construção.
Avançando, entramos numa cidade outrora próspera e de dimensão considerável. O ritmo frenético de desenvolvimento da cidade, obriga-me a falar dela em dois momentos temporais, o de Abril de 2008 e o momento actual. Em Abril, ao entrarmos na cidade, circulávamos numa estrada asfaltada em que o mau estado de conservação sobressai-a debaixo dos amortecedores das viaturas. As ruas perpendiculares a esta encontravam-se por asfaltar, e outras, apesar do asfalto, tinham tamanha quantidade de pó que parecia que circulávamos em estradas de terra batida. Os passeios eram inexistentes ou encontravam-se bastantes degradados. Actualmente, todas as ruas e avenidas do interior da cidade se encontram asfaltadas, apesar de muitas delas já terem sido cortadas para colocação ou reparação das condutas de água, saneamento e ainda pela colocação das estruturas de distribuição de energia eléctrica (faz-me lembrar um outro país), serviços essenciais para qualquer sociedade e que, ainda tardam em estar a cem por cento num país carente de infra-estruturas de apoio á população, mas que acredito, que a médio prazo estarão consolidadas.
Um dos pormenores que não passa ao lado de quem vem a Benguela pela primeira vez, são algumas das suas largas avenidas, a modo geométrico como a cidade está desenhada, em quarteirões, que possibilitam aceder com facilidade aos vários locais da cidade. O trânsito é razoável, incomparavelmente menor que em Luanda, mas que já faz desesperar os condutores mais apressados. Benguela é ainda conhecida pela cidade das motas, ou moto táxis, ou ainda, por “cucapatas”, um “mal” necessário para a deslocação da população ao longo dos vários locais da cidade. Quando afirmo “mal” necessário, digo apenas porque para estes “motoqueiros”, o respeito ás regras de transito e de bom condutor não existem, é vê-los a ultrapassar pela direita, a andar em contramão, a virar sem fazer sinal, ou a inverter a marcha sem qualquer indicação. Devido á quantidade de “cucapatas”, a caça ao cliente é tão intensa que todos os sentidos desses condutores se viram para potenciais clientes esquecendo-se que circulam em estradas que têm viaturas em circulação e que as regras de trânsito e de bom senso também existem. Estes factores, obrigam a que os restantes condutores tenham de ter uma atenção redobrada para circular nas diversas ruas e avenidas da cidade. Em termos de sinalização, e á semelhança do que acontece em várias cidades por todo o país, é quase inexistente e por isso o cumprimento das regras de trânsito á essencial para evitar acidentes rodoviários. No entanto, a agravar a situação, ao longo dos muitos anos de existência, tornou-se por hábito que determinadas ruas e ou avenidas teriam prioridade sobre outras, o que significa para quem vem de fora, ter de obter esse conhecimento popular de onde tem ou não essa prioridade, “regras de trânsito” de conhecimento obrigatório, para evitar alguns contratempos mais complicados.
Mas Benguela, não é só desordem e complicações, tem muito para dar e promete continuar a ser um dos principais pólos de desenvolvimento num vasto e rico país que é Angola. Garanto-vos meus amigos, mesmo para quem não conhece, que irão ficar com saudades de uma terra de acácias… rubras!